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Coleção da BE-ESOD – destaque:
Antero de Quental, Tesouro poético de infância;
Antero de Quental, Sonetos completos
| O Palácio da Ventura Sonho que sou um cavaleiro andante. Por desertos, por sóis, por noite escura, Paladino do amor, busco anelante O palácio encantado da Ventura! Mas já desmaio, exausto e vacilante, Quebrada a espada já, rota a armadura... E eis que súbito o avisto, fulgurante Na sua pompa e aérea formosura! Com grandes golpes bato à porta e brado: Eu sou o Vagabundo, o Deserdado... Abri-vos, portas de ouro, ante meus ais! Abrem-se as portas d'ouro, com fragor... Mas dentro encontro só, cheio de dor, Silêncio e escuridão - e nada mais! |
| Nocturno Espírito que passas, quando o vento Adormece no mar e surge a Lua, Filho esquivo da noite que flutua, Tu só entendes bem o meu tormento... Como um canto longínquo - triste e lento - Que voga e sutilmente se insinua, Sobre o meu coração que tumultua, Tu vestes pouco a pouco o esquecimento... A ti confio o sonho em que me leva Um instinto de luz, rompendo a treva, Buscando, entre visões, o eterno Bem. E tu entendes o meu mal sem nome, A febre de Ideal, que me consome, Tu só, Génio da Noite, e mais ninguém! |
| À Virgem Santíssima Cheia de Graça, Mãe de Misericórdia N'um sonho todo feito de incerteza, De nocturna e indizível ansiedade, É que eu vi teu olhar de piedade E (mais que piedade) de tristeza... Não era o vulgar brilho da beleza, Nem o ardor banal da mocidade... Era outra luz, era outra suavidade, Que até nem sei se as há na natureza... Um místico sofrer... uma ventura Feita só do perdão, só da ternura E da paz da nossa hora derradeira... Ó visão, visão triste e piedosa! Fita-me assim calada, assim chorosa... E deixa-me sonhar a vida inteira! Antero de Quental, in Sonetos completos |