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quinta-feira, 12 de outubro de 2017

KAZUO ISHIGURO - Prémio Nobel da Literatura 2017

Kazuo Ishiguro nasceu em Nagasáqui, Japão, em 1954, e vive na Grã-Bretanha desde os cinco anos. Em 1995 foi feito Oficial da Ordem do Império Britânico, por serviços prestados à literatura e em 1988 recebeu a condecoração honorífica francesa de Chevalier de L’Ordre des Arts et des Lettres.
A Academia Sueca distinguiu o escritor inglês, que se tornou globalmente conhecido com Os Despojos do Dia, pela "força emocional" dos seus romances.
O Nobel da Literatura de 2017 foi atribuído ao escritor inglês Kazuo Ishiguro e aos seus "romances de grande força emocional, que revelam o abismo da nossa ilusória sensação de conforto em relação ao mundo", anunciou (...) em Estocolmo a secretária permanente da Academia Sueca Sara Danius.
Ishiguro é o celebrado autor de Os Despojos do Dia (1989), um romance onde são bem visíveis os seus temas de eleição, "a memória, o tempo e a auto-ilusão", como escreve a Academia Sueca na pequena biografia do autor disponível no site. Com ele venceu o Booker Prize; o livro viria a ser adaptado ao cinema em 1993 por James Ivory. Ishiguro escreveu também Os Inconsolados (1995, vencedor do Cheltenham Prize), Quando Éramos Órfãos (2000, nomeado para o Booker Prize e para o Whitbread Prize), Nunca me Deixes (2005, nomeado para o Booker Prize; adaptado ao cinema), Noturnos (2009) e O Gigante Enterrado (2015),  publicados em Portugal pela Gradiva. O seu primeiro romance, As Colinas de Nagasaki, foi traduzido em 1989 pela Relógio D'Água.
Minutos após o anúncio, Sara Danius explicou numa curta entrevista difundida em direto que o Nobel da Literatura de 2017 distingue "um escritor de grande integridade" e "um romancista absolutamente brilhante" que "desenvolveu um universo estético só seu". "Kazuo Ishiguro está muito interessado em compreender o passado. Não para o redimir, mas para revelar o que temos de esquecer para podermos sobreviver enquanto indivíduos e enquanto sociedade", acrescentou, confessando que o seu romance favorito do autor britânico é o recente O Gigante Enterrado. A secretária permanente da Academia Sueca não quis porém deixar de mencionar Os Despojos do Dia, "uma verdadeira obra-prima que começa como uma comédia de costumes de P.G. Wodehouse e acaba num registo kafkiano". Kafka, assim como Jane Austen, apontou ainda, são as suas influências mais visíveis – mas para obter a receita completa da escrita de Ishiguro será preciso "acrescentar um pedacinho de Marcel Proust e depois agitar, mas não muito".

À BBC, que lhe deu a notícia, o autor considerou o Nobel da Literatura que agora lhe foi atribuído "uma honra magnífica", que o coloca nas pegadas "dos maiores autores que já viveram". "O mundo vive um momento muito incerto e eu espero que todos os prémios Nobel possam ser uma força positiva no mundo. Ficaria profundamente comovido se pudesse de algum modo contribuir para uma atmosfera positiva em tempos tão incertos", acrescentou.
O "Brexit", sobre o qual se pronunciou logo após o referendo num artigo para o Financial Times, talvez seja uma dessas incertezas que Ishiguro gostaria de poder dissipar: "Precisamos de um segundo referendo  – não para repetir o primeiro, mas para definir o mandato que advém do desfocado resultado da semana passada (...). Este segundo debate terá de ser aberta e claramente sobre a troca entre o pôr fim à imigração da União Europeia e o acesso ao mercado único. Será um debate em que aqueles que defenderam e votaram 'sair' por razões não-racistas terão a oportunidade de se colocar do lado oposto aos que o fizeram", escreveu a 1 de Julho do ano passado, reiterando a sua "fé no povo da Grã-Bretanha" e na capacidade do país para se manter "decente e justo, disponível para mostrar compaixão a forasteiros em necessidade", unindo-se em torno dos "instintos humanos tradicionais" e isolando "os racistas".
Natural de Nagasáqui, no Japão, onde nasceu em 1954, Ishiguro mudou-se com a família (o pai era oceanógrafo) para o Reino Unido quando tinha cinco anos. Licenciou-se em Inglês e Filosofia pela Universidade de Kent em 1978 e obteve um mestrado em escrita criativa pela Universidade de East Anglia em 1980. Três anos depois, foi incluído na lista de melhores jovens escritores britânicos organizada pela Granta, a par de Martin Amis, Ian McEwan e Salman Rushdie.

A escrita de Ishiguro “é marcada por uma expressão cuidadosamente contida, independentemente dos acontecimentos que retrata”. A sua ficção mais recente contém temas fantásticos, como o distópico Nunca Me Deixes (2005), onde se interroga sobre o que aconteceria se em vez de uma era nuclear vivêssemos um tempo marcado pelas descobertas da biotecnologia como a clonagem. Aqui, diz a Academia, “introduz uma fria corrente subjacente de ficção científica no seu trabalho”, explorando, ao mesmo tempo referências musicais, visíveis em vários outros trabalhos de ficção, como se pode ver na colecção de contos Nocturnos (2009), “onde a música tem um papel fundamental para retratar as relações dos personagens”.


recolha pelo prof. Rafael Tormenta