quinta-feira, 20 de maio de 2010

Leituras … no 120º aniversário sobre o nascimento (19 de Maio de 1890) de Mário de Sá-Carneiro


(1890-1916)

O FIDALGO E O LAVRADOR

É meia-noute. No baile
Folga tudo e tudo dança.
À mesm’hora o lavrador
No seu casebre descansa.

Uma hora. No palácio
Agora vai-se almoçar.
Na choupana o lavrador
Já terminou o jantar!

Dorme o fidalgo num leito
De penas, sobressaltado.
Em tábuas o lavrador
Repousa, mas sossegado!

             24 de Abril de 1903

        

        A ROSA

Mote
A rosa para ser rosa
Deve ser d’Alexandria.

Glosa
A rosa para ser rosa
Deve ser muito cheirosa
Muito fresca e viçosa
Como tu linda Maria.
Seja branca ou encarnada
Amarela ou rosada
Deve ser d’Alexandria.

                             1905

    in Mário de Sá-Carneiro, Poemas Completos, Lisboa, Assírio & Alvim, 2001

Poeta e ficcionista, com Fernando Pessoa e Almada Negreiros, Mário de Sá-Carneiro constitui um dos principais representantes do Modernismo português. Partindo para Paris, em 1912, para cursar Direito, estudos que abandonaria pouco depois, a figura de Mário de Sá-Carneiro assume uma importância basilar para a compreensão do modo como o Modernismo português se foi formando com caracteres próprios na recepção das correntes de vanguarda europeias, processo de que a correspondência que estabeleceu com Fernando Pessoa dá um testemunho documental precioso e que culminaria com a publicação de Orpheu, em 1915. (…)

Biografia
MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO nasceu em Lisboa no dia 19 de Maio de 1890. Os primeiros anos de sua vida são marcados pela dor causada pela morte da mãe, em 1892, quando ele tinha apenas dois anos. Em 1911 matricula-se na Faculdade de Direito de Coimbra e, no ano seguinte, transfere-se para Universidade de Paris para dar continuidade ao curso de Direito, que não conseguiu concluir. Ainda em 1912 publica a peça teatral "Amizade" e o volume de novelas "Princípio".
Nessa época, começa a corresponder-se com Fernando Pessoa. Nessa correspondência já se reflectem o agravamento dos seus problemas emocionais e as ideias de morte e suicídio. Em 1914, além de publicar as obras "Dispersão" e "A confissão de Lúcio", Sá Carneiro intensifica sua correspondência com Fernando Pessoa, a quem envia os seus poemas e projectos de obras, revelando crescentes sinais de pessimismo e desespero.
Em 1915, integrando o grupo modernista em Portugal, participa do lançamento da revista "Orpheu". No segundo volume dessa revista publica o poema futurista "Manucure", que, ao lado do poema "Ode triunfal" de Álvaro de Campos (Heterónimo de Fernando Pessoa), provocam impacto e polémicas nos meios literários.
Ainda em 1915 regressa a Paris, onde passa por constantes crises de depressões, que são agravadas por causa das suas dificuldades financeiras. Em 1916, numa carta a Fernando Pessoa, anuncia a sua intenção de suicídio, o que efectivamente ocorre no dia 26 de Abril, num quarto do Hotel Nice, em Paris.
A obra de Mário Sá-Carneiro está intimamente relacionada com a sua vivência pessoal, ou seja, revela toda a sua inadaptação ao mundo e a constante busca do seu próprio eu. Isso faz com que o poeta mergulhe no seu mundo interior e, diferente de Fernando Pessoa, que se desdobrou em heterónimos, atinja a autodestruição. Para o bom entendimento da obra de Mário de Sá Carneiro é necessária a análise das "Cartas a Fernando Pessoa", publicadas postumamente.
         Títulos
Princípio (1912)
A Confissão de Lúcio (1914)
Dispersão (1914)
Céu Em Fogo (1915)
Indícios De Oiro (1937)
Poesias (1946)
Cartas A Fernando Pessoa (1958)
Poemas juvenis (1986)

Fontes:
-Mário de Sá-Carneiro, [Em linha] Disponível em http://www.wook.pt/authors/detail/id/14272. [Consultado em 19/05/2010];
-Mário de Sá Carneiro (1890), [Em linha] Disponível em http://www.portaldaliteratura.com/autores.php?autor=337. [Consultado em 19/05/2010], (adaptado)