ONDJAKI
[...] A língua portuguesa ganha o tom, liga todas as mensagens, renova-se sem concessões e aparece fresca e milagrosa como as águas à solta do rés-do-chão do lugar central do romance", acrescenta ainda Ana Paula Tavares, para quem este é um livro de maturidade do autor. "O seu encanto pela infância continua presente, mas já estamos no registo adulto do olhar crítico e mordaz que é lançado sobre o tempo, a História e as respetivas legitimações políticas. A ironia e o humor continuam a caracterizar a escrita de Ondjaki, tornando a leitura de Os Transparentes muito fluida e agradável, sobretudo quando o romance obriga o leitor a se confrontar com uma criolização mais radical e criativa da língua portuguesa.
"Este prémio não é meu, este prémio é de Angola." Foi assim que Ondjaki agradeceu o prémio, no valor de 25 mil euros. "Eu não ando sozinho, faço-me acompanhar dos materiais que me passaram os mais velhos. Na palavra 'cantil' guardo a utopia, para que durante a vida eu possa não morrer de sede."
"Este é um livro sobre uma Angola que existe dentro de uma Luanda que eu procurei escrever e descrever. Fi‑lo com o que tinha dentro de mim entre verdade, sentimento, imaginação. E amor. É uma leitura de carinho e de preocupação. É um abraço aos que não se acomodam mas antes se incomodam. É uma celebração da nossa festa interior, trazendo as makas, os mujimbos, algumas dores, alguns amores. Penso que todos queremos uma Angola melhor", disse o escritor no seu discurso de agradecimento.
in Público, 5 nov./2013
|via RBE|
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MIA COUTO
Este é considerado o prémio Nobel norte-americano. Entre os nomeados estavam, o japonês Haruki Murakami e o argentino César Aira.
O escritor moçambicano Mia Couto foi distinguido com o prémio internacional de literatura Neustadt, atribuído de dois em dois anos pela Universidade de Oklahoma desde 1970, no valor de 50 mil dólares (37 mil euros).
A lista de nomeados para o prémio da Bienal Internacional de Literatura Neustadt deste ano integrava o escritor argentino César Aira, a vietnamita Duong Thu Huong, o ucraniano Ilya Kaminsky, o japonês Haruki Murakami, o norte-americano Edward P. Jones, o sul-coreano Chang-rae Lee, o palestiniano Ghassan Zaqtan e Edouard Maunick, das Ilhas Maurícias.
[…] Em declarações à agência Lusa, Mia Couto quis dedicar, em primeiro lugar, o prémio à sua família, que apelidou de “primeira nação”. “E depois a Moçambique, por todas as razões, mas agora ainda mais, porque temos de ficar mais juntos nessa busca por opções de paz, por alternativas de desenvolvimento”, disse. O escritor assinalou a importância deste prémio ser entregue a um escritor de língua portuguesa para “despertar interesse e atenção” para outros idiomas que não o inglês. O galardão já distinguiu, entre outros, o brasileiro João Cabral de Melo Neto, Álvaro Mutis, Octávio Paz e Giuseppe Ungaretti.
Além do cheque, Mia Couto vai receber uma reprodução em prata de uma pena de águia.
Mia Couto é o pseudónimo de António Emílio Leite Couto, de 58 anos, autor que já recebeu os prémios Camões, Eduardo Lourenço e o da União Latina de Literaturas Românicas. O autor de Terra Sonâmbula e de Estórias Abensonhadas já recebeu o Prémio Nacional de Ficção da Associação dos Escritores Moçambicanos, o Prémio Vergílio Ferreira, da Universidade de Évora, o Prémio União Latina 2007, de Literaturas Românicas, o Prémio Passo Fundo Zaffari e Bourbon de Literatura, do Brasil, e o Prémio Eduardo Lourenço, entre outros. A Confissão da Leoa, editado o ano passado é o seu mais recente livro.
in Público, 2 nov./2013