Kazuo Ishiguro nasceu em
Nagasáqui, Japão, em 1954, e vive na Grã-Bretanha desde os cinco anos. Em 1995
foi feito Oficial da Ordem do Império Britânico, por serviços prestados à
literatura e em 1988 recebeu a condecoração honorífica francesa de Chevalier de
L’Ordre des Arts et des Lettres.
A Academia Sueca distinguiu o escritor inglês, que se tornou globalmente
conhecido com Os Despojos do Dia, pela "força emocional"
dos seus romances.
O Nobel
da Literatura de 2017 foi atribuído ao escritor inglês Kazuo Ishiguro e aos
seus "romances de grande força emocional, que revelam o abismo da nossa
ilusória sensação de conforto em relação ao mundo", anunciou (...) em
Estocolmo a secretária permanente da Academia Sueca Sara Danius.
Ishiguro
é o celebrado autor de Os Despojos do Dia (1989), um romance
onde são bem visíveis os seus temas de eleição, "a memória,
o tempo e a auto-ilusão", como escreve a Academia Sueca na pequena
biografia do autor disponível no site. Com ele venceu o Booker
Prize; o livro viria a ser
adaptado ao cinema em 1993 por James Ivory.
Ishiguro escreveu também Os Inconsolados (1995, vencedor do
Cheltenham Prize), Quando Éramos
Órfãos (2000, nomeado para o
Booker Prize e para o Whitbread Prize), Nunca me Deixes (2005,
nomeado para o Booker Prize; adaptado ao cinema), Noturnos (2009) e O Gigante
Enterrado (2015), publicados em
Portugal pela Gradiva. O seu primeiro romance, As Colinas de Nagasaki,
foi traduzido em 1989 pela Relógio D'Água.
Minutos após o anúncio,
Sara Danius explicou numa curta entrevista difundida em direto que o Nobel da
Literatura de 2017 distingue "um escritor de grande integridade" e
"um romancista absolutamente brilhante" que "desenvolveu um
universo estético só seu". "Kazuo Ishiguro está muito interessado em
compreender o passado. Não para o redimir, mas para revelar o que temos de
esquecer para podermos sobreviver enquanto indivíduos e enquanto
sociedade", acrescentou, confessando que o seu
romance favorito do autor britânico é o recente O Gigante Enterrado.
A secretária permanente da Academia Sueca não quis porém deixar de
mencionar Os Despojos do Dia, "uma verdadeira
obra-prima que começa como uma comédia de costumes de P.G. Wodehouse e acaba
num registo kafkiano". Kafka, assim como Jane Austen, apontou ainda, são
as suas influências mais visíveis – mas para obter a receita completa da
escrita de Ishiguro será preciso "acrescentar um pedacinho de Marcel
Proust e depois agitar, mas não muito".
À BBC,
que lhe deu a notícia, o autor considerou o Nobel da Literatura que agora lhe
foi atribuído "uma honra magnífica", que o coloca nas pegadas
"dos maiores autores que já viveram". "O mundo vive um momento
muito incerto e eu espero que todos os prémios Nobel possam ser uma força
positiva no mundo. Ficaria profundamente comovido se pudesse de algum modo
contribuir para uma atmosfera positiva em tempos tão incertos",
acrescentou.
O
"Brexit", sobre o qual se pronunciou logo após o referendo num artigo
para o Financial Times, talvez seja uma dessas incertezas que
Ishiguro gostaria de poder dissipar: "Precisamos de um segundo
referendo – não para repetir o primeiro, mas para definir o mandato que
advém do desfocado resultado da semana passada (...). Este segundo debate terá
de ser aberta e claramente sobre a troca entre o pôr fim à imigração da União
Europeia e o acesso ao mercado único. Será um debate em que aqueles que
defenderam e votaram 'sair' por razões não-racistas terão a oportunidade de se
colocar do lado oposto aos que o fizeram", escreveu a 1 de Julho do ano
passado, reiterando a sua "fé no povo da Grã-Bretanha" e na
capacidade do país para se manter "decente e justo, disponível para
mostrar compaixão a forasteiros em necessidade", unindo-se em torno dos
"instintos humanos tradicionais" e isolando "os racistas".
Natural
de Nagasáqui, no Japão, onde nasceu em 1954, Ishiguro mudou-se com a família (o
pai era oceanógrafo) para o Reino Unido quando tinha cinco anos. Licenciou-se
em Inglês e Filosofia pela Universidade de Kent em 1978 e obteve um mestrado em
escrita criativa pela Universidade de East Anglia em 1980. Três anos depois,
foi incluído na lista de melhores jovens escritores britânicos organizada pela Granta,
a par de Martin Amis, Ian McEwan e Salman Rushdie.
A escrita de Ishiguro “é marcada por uma expressão cuidadosamente
contida, independentemente dos acontecimentos que retrata”. A sua ficção mais
recente contém temas fantásticos, como o distópico Nunca Me
Deixes (2005), onde se interroga sobre o que aconteceria se em vez de
uma era nuclear vivêssemos um tempo marcado pelas descobertas da biotecnologia
como a clonagem. Aqui, diz a Academia, “introduz uma fria corrente subjacente
de ficção científica no seu trabalho”, explorando, ao mesmo tempo referências
musicais, visíveis em vários outros trabalhos de ficção, como se pode ver na
colecção de contos Nocturnos (2009), “onde a música tem um
papel fundamental para retratar as relações dos personagens”.
recolha pelo prof. Rafael Tormenta
⧪